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Humor-->Os dois -- 14/07/2000 - 22:35 (Rodrigo Teles Calado) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O primeiro diagnóstico

Ele foi taxativo: bronquite asmática. Banho frio, exercícios ao ar livre. Natação, nada de poeira... animais de pêlo nem pensar.
-Animais de pêlo ? - Indagou a mãe triste e intrigada.
A menina observava tudo com atenção, como se entendesse a extensão do problema.
-Nada de animais de pêlo, retomou a palavra o médico. Enquanto não se descobrir a origem da alergia, é preciso seguir as instruções.
Retornaram para casa em silêncio como se procurassem uma solução urgente.
Aquela menina e sua irmã adoram animais. Cachorro, gato, tudo tem pêlo. Viviam em um apartamento, de classe média, confortável, com alguns vasos de planta ornamentais. Faltava um animal. Que animal sem pelo poderia suprir aquela falta ?
Os dias corriam sem nenhuma solução. Um Domingo ensolarado, não como o de Caetano Velos, íamos com lenço e com documentos, num sol quase de dezembro. Seguíamos rua abaixo em direção à feira. Atravessamos ruas estreitas, ouvindo o catarral dos feirantes anunciando produtos e ofertas. Em dado momento sons estridentes de pássaros e outros animais. Houve um rápido movimento de cabeças e o casal trocou olhares, como se descobrissem, ao mesmo tempo, uma possível solução. E ali estava. Uma pequena tartaruga entre gaiolas e engradados. Aquela pequena tartaruga cabia na palma da mão de qualquer criança.Seria certamente a solução. Não houve pechincha. O pagamento foi efetuado e as outras compras esquecidas. O destino : direto para casa.
Ao chegarem, a festa começou na entrada. O casal feliz brigava para dar a notícia primeiro. Entraram que juntos, chamaram pelas crianças que, sem nada entender, correram em direção à "festa". Retirada de uma caixinha de papelão, cuidadosamente furada, a tartaruguinha foi apresentada. A "festa"tomou maior intensidade. Mais participantes, mais euforia.
Houve uma interação total entre a família e o animalzinho. Mesmo sacudido constantemente, derrubado, chutado e até mesmo pisado, o casco duro resistia a tudo e a todos.
Um dia, não tão belo, a tartaruguinha dormia de forma diferente: cabeça e membros estendidos ao longo do chão como se uma tremenda preguiça tivesse tomado conta daquele corpinho. O fato foi observado nos dias seguintes pôr toda a família. Constataram que além daquela atitude estranha, a tartaruguinha, que já era lenta, mais lenta se tornara. A preocupação aumentava até que uma das meninas lembrou:
-Leva ela ao médico mamãe .
-Não é médico filhinha, é veterinário.
-Vete ...oque ?
-V E T E R I N Á R I O, repetiu a mãe pausadamente.
-O que é isso ?
-Veterinário é médico que cuida dos bichos.
Dada as devidas explicações, as providências foram iniciadas. Alguma restrição do pai argumentando que aquilo poderia ser um mal passageiro e que, sinceramente, não acreditava em um veterinário para tartaruga.
-Por que não tartaruga ? retrucou a mãe das crianças.
A conversa tomava outro rumo, até que ficou resolvido: ao veterinário !


O segundo diagnóstico


A sala de espera era espaçosa. Algumas senhoras procuravam conter os cães gatos inquietos. O Casal entrou e dirigiram-se à atendente informando que tinham consulta marcada.
-Em nome de quem está marcada a consulta ? perguntou a atendente displicentemente sentada.
-Maria.
-É gata ? perguntou a atendente.
-Não ...é tartaruga, respondeu.
-Engraçado, nunca vi tartaruga com o nome de Maria.
-Maria sou eu, a tartaruga não tem nome, disse irritada a mãe das crianças.
As senhoras se entreolharam, trocaram um riso de deboche. Aquela atitude tornou o ambiente ainda mais tenso. O pai resolveu fazer uma intervenção e melhorar o ambiente.
-Vamos chamá-la de "SEM NOME", batizando assim o animalzinho.
-A família procurou um lugar para sentar. Cheiradas pôr cães e gatos ali ficaram sentados até que o veterinário despedindo-se de seu cliente ordenou.
-O próximo.
O próximo naturalmente era aquela família e sua tartaruguinha. Até aquele momento o artista principal não havia aparecido.
A atendente de cara amarrada, perguntou pelo animalzinho que imediatamente foi sacado da caixinha de papelão. As senhoras novamente se entreolharam, novos risinhos.
A sala de atendimento não foi suficiente para acomodar a todos. Foi improvisado um banco imediatamente ocupado pelas crianças.
Retirada novamente da caixinha, SEM NOME foi apresentada ao veterinário. O relato veio rápido:
-Há mais ou menos uma semana ela tem estado triste, dormindo com a cabeça de fora e as perninhas esticadas. Ela também estava andando mais devagar do que o normal.
-Deixe-me examiná-la, disse o veterinário estendendo uma enorme mão. Sem nome sumiu nela. O exame foi feito com todo cuidado.
-Nada grave, minha senhora . Em uma semana estará curada.
O que ela tem ? - perguntou o pai mais de sacana do que preocupado.
-Pneumonia ! - disse o veterinário erguendo a cabeça com postura sábia.
-Vou passar uma medicação que deve ser seguida rigorosamente.


Abaixou a cabeça, apanhou o receituário e prescreveu a receita.
Saíram e mãe sugeriu, quase que ordenando: direto à farmácia, começamos a medicação hoje mesmo.
-Ok, respondeu o pai rindo pôr dentro.
Já em casa a receita foi lida em voz alta. Pingar 5 gotas via oral de 8 em 8 horas .
Tudo preparado. A tartaruguinha em posição quase que vertical e as tentativas em vão. Ninguém conseguia acertar uma única gota na boquinha de SEM NOME.
-Vou ligar para o veterinário, disse a mãe já nervosa.
Dirigiu-se para o telefone e minutos depois voltou com a solução.
-O veterinário disse para pingar com uma seringa.
Depois de muita luta cumpriu-se o ritual religiosamente durante 5 dias, sem melhora aparente. No 6º dia, apareceu a faxineira que havia sumido a mais de 15.
-Bom dia ! Eu tive uns "pobremas"com meu companheiro e só pude vir hoje, chegou explicando.
-Tudo bem - disse a mãe sabendo que a casa estava carente de uma boa limpeza. Esta casa está imunda. A cozinha tem que ser lavada.
-Tudo bem, deixa comigo, retrucou a faxineira.
Tudo corria normal, a casa virada de pernas pro ar. Em dado momento a faxineira gritou da cozinha: -Venham ver uma coisa.
-O que foi ?
-Dê uma olhada ali atrás da geladeira.
Encaminhando-se para o local, a mãe abaixou-se e cuidadosamente recolheu uma série de comprimidos de Somalium, roídos, recolocando-os no frasco. Levantou-se, encaminhando-se para a sala e disse ao marido que via televisão.


-SEM NOME ESTÁ SALVA !
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